quinta-feira, setembro 25, 2008

Esquece

Esquece o melhor que puderes.
Há drogas e cinema (por
enquanto). Não vais ser tu a aprisionar
os gestos felizes ou sem rumo
de que ainda sou capaz.
Não é nada pessoal, garanto-te.

Bebi sempre demais, acordo
tarde e as crianças estão longe de ser
o meu animal doméstico preferido.
Detesto horários, famílias e obrigações.
Até a partilha dos lençóis,
quando não é o amor a rasgá-los.

Os dias, porém, depressa
nos obrigam ao esterco das rotinas,
ao desejo inútil de procurar
a morte noutros braços

Mas não. Não vou mudar de marca
de cigarros nem de pasta
dentífrica. Acordo logo que puder,
já sabes. Telefono-te rouco,
eventualmente triste, a precisar
de alguma liberdade para poder provar,
sozinho, que a liberdade não existe
mas dá bastante jeito.

E no entanto, depois disto tudo,
é altamente provável que eu te queira
amar. Como não sei melhor, como sei.





Better off without a wife, Manuel de Freitas

domingo, setembro 21, 2008

Os Amantes

"Tenho medo que a liberdade se torne um vício." (Miguel Sousa Tavares, Rio das Flores) Os amantes amam por amor. Não o querer, o fazer, o ter.... mas a magia que se esconde por trás do objecto. Os momentos intensos de desejo, de sonho e de tortura e dor que antecedem a posse... onde tudo se desvanece. O amante é insaciável e a sua fome é aquilo que o define. A fome de amor é a essência do amante. E ele reconhece-o. Reconhece-o com prazer, com dor, com alegria e com tristeza.
O amante busca a utopia inalcançável.... O amante busca as pedras no caminho e não o banho quente no fim de uma caminhada. Quando um caminho termina... abre-se um novo, mais íngreme, mais difícil.. para tornar a busca interminável ainda mais desejada, ainda mais essencial....

O amante busca - consciente da sua derrota - tudo aquilo que os outros não ousam procurar... a eterna sensação de novidade, a eterna sensação de liberdade.

Vício? Talvez.... Acende mais um cigarro, o nosso amante errante... em busca de novos caminhos, novos desafios, novas paradas. Vício? Sim, com certeza... amar é um vício eterno, é o vício da sobrevivência. O cigarro apagou e o corpo pede mais... ele não pode recusar. Sim. A liberdade é o vício do amante... Liberdade é o nome que se dá ao mundo onde habita o Amor.

sexta-feira, setembro 19, 2008

Os criadores de monstros

São pessoas normais como nós e toda a gente que caminham as mesmas ruas, frequenta os mesmos espaços. Aparentemente. Mas só aparentemente. Os criadores de monstros têm um trabalho vitalício que os ocupa 24 horas por dia e sete dias por semana lá na oficina do pensamento. Peça por peça, vão criando, magicando um pequeno monstrinho. Sozinho. O criador de monstros é um ser solitário. E é ela – a solidão – que alimenta o monstro que ele cria, que lhe dá força, carisma e independência. Egocêntrico. O criador de monstros gosta de si e reconhece (ou será todo esse reconhecimento mera fantasia sua?) que o mundo, as pessoas que o rodeiam não são, não dão, não fazem o suficiente. Nunca é suficiente. O descontentamento é a matéria-prima do nosso criador de monstros. Mas…

No final, o monstro já criado – feio, pavoroso, diabólico – é chegada a conclusão: não existe espaço no mundo para ele. O criador de monstros esconde-o debaixo da sua cama. Por vergonha? Por gozo? O criador de monstros não cria monstros para os outros. Não, ele não quer mal a ninguém… senão a ele próprio. Ele cria os monstros para si, para sua própria companhia. Porque ás vezes é melhor sentir tristeza, dor, indiferença do que não sentir nada de nada.

quinta-feira, setembro 18, 2008

Brisa das palavras

Era capaz de jurar que senti o chao a girar. Uma leve tendência giratória, aleatória...



Sussuraste-me qualquer coisa ao ouvido... e sim, senti-o.


Ou foste tu que na deliciosa brisa das tuas palavras empurras-te o globo para eu ter uma perspectiva diferente do mundo?









reaccao ao filme Candy de Neil Armfield

segunda-feira, setembro 15, 2008

Coffee & Cigarettes Part VI





Há quanto tempo nao me rio até me doer a barriga.....


Espero que, quando volte a acontecer eu ainda saiba reconhecer o momento de felicidade que é deixar-se levar pelo instinto do riso.








foto extraída de: http://olhares.aeiou.pt/ler___filipe_duarte/foto505105.html

segunda-feira, setembro 08, 2008

A realidade que só tu podes ver

"O surrealismo é uma fusão perfeita entre a técnica e a sensibilidade. À partida, você tem um cenário tecnicamente perfeito ao nível da pintura - tão perfeito que parece quase uma fotografia. Nenhum pormenor escapa; as linhas, as sombras, os contornos estão rigorosamente desenhados: o é o real absoluto. Depois, o retrato começa como que a perder o juízo, a fartar-se de tamanha fidelidade e, de repente, é como se você estivesse aqui a olhar para o ribeiro e, á força de o ver sempre nítido e imutável, fecha os olhos e, quando os abria, via qualquer coisa de absurdo, que não está lá, mas que, na sua imaginação, podia estar. Como....
- Como você, por exemplo....."



in Rio das Flores, Miguel Sousa Tavares


Ás vezes a realidade não é nada daquilo que queremos ver ou sentir.... porque não criar a nossa própria realidade e vivê-la feliz?